Nas profundezas dos olhos de Brendan Fraser – The Whale

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Nas profundezas dos olhos de Brendan Fraser – The Whale
Brendan Fraser em A Baleia: Foto reprodução

O protagonista de The Whale (2022), filme premiado no Oscar 2023, acredita na bondade das pessoas, aturando mesmo as maldades de sua filha.

Brendan Fraser em A Baleia: Foto reprodução

Sobre o filme

A Baleia (The Whale, 2022) é um drama psicológico americano, baseado na peça de Samuel D. Hunter. Foi dirigido por Darren Aronofsky, que tem como marca registrada fazer seus personagens sofrerem, vide alguns dos seus filmes anteriores, como Cisne Negro (2010) e Mãe (2017).

O diretor adora dar foco na angústia, sufoco, arrependimento e redenção de seus protagonista. Dessa vez, com A Baleia, não poderia ser diferente.

Atenção, pode conter spoilers!

Um sentimento de pena

A narrativa retrata alguns dias da vida de Charlie (Brendan Fraser), um professor universitário que sofre de compulsão alimentar, obesidade mórbida e outros problemas de saúde debilitada. Ele tenta se reaproximar da filha adolescente Ellie (Sadie Sink) que abandonou quando ela tinha apenas oito anos de idade. Liz (Hong Chau) é sua cunhada e única amiga, a relação deles carrega a melancolia do suicídio do namorado de Charlie. 

Do começou ao fim, o espectador é apresentando a um sentimento de pena quase que compulsório para com o protagonista. Charlie recebe ataques de ira de todos, mas não reage e vive se desculpando sem motivos.

Fragilizado e otimista, ele é capaz de enxergar o melhor nas pessoas, e se recusa a ver a própria filha como uma pessoa ruim, mesmo quando ela prova com ações e palavras. Para ele, é a autenticidade dela que importa, e era isso que ele queria ver mais no mundo. 

A câmera faz poucos movimentos e alguns são semicirculares, em volta de Charlie, que está sempre sentado em seu sofá, de forma que consigamos presenciar a dificuldade que o personagem tem de enxergar atrás de si e de se mexer. 

A busca de Charlie por redenção

As cenas entre Charlie e Liz geralmente apresentam carinho e cuidado entre duas pessoas que dividem o mesmo luto por um ente amado. A filha Ellie, ao contrário, apenas despeja diversas ofensas e malcriação na presença do pai.

O espectador pode ficar carente de mais profundidade de camadas, afinal, a única emoção em foco é a raiva de Ellie, sem demonstração de mágoas ou carência paterna, sentimentos que, numa realidade mais fiel, um reencontro deste poderia gerar. É nítido que, na cabeça de Ellie, o pai é o maior vilão, mas ela só não esperava que seria um vilão amoroso que a achava maravilhosa como é. 

O diretor faz uma enxurrada de melancolia. Darren não segue o mesmo fluxo alegórico e sem realismo que foi sua marca no filme Mãe, por exemplo. Tudo ao redor de Charlie é construído para que vejamos seu castigo e sua busca por redenção pelos erros do passado.

Luto, suicídio, trauma e religião aparecem de maneira sorrateira, quase superficial, o que pode gerar um desejo insaciável para quem assiste e espera por um desenvolvimento ou explicação dessas questões na trama. 

A atuação de Brendan Fraser é o que torna tudo especial. As emoções em seus olhos são impecáveis. O próprio ator chegou a dizer que a dificuldade em se mover com as roupas fazia com ele precisasse focar mais em suas feições para dar vida ao personagem. 

Moby Dick, a baleia

A redenção de Charlie e uma suposta salvação de Ellie surge em uma das últimas cenas do filme, quando ele, finalmente, consegue amolecê-la um pouco, ao ponto de fazê-la o chamar de “papai”.

Em seguida, Ellie lê, a pedido de Charlie, uma redação que ela mesma fez alguns anos antes. O texto é sobre Moby Dick, a grande baleia branca que o capitão Ahab deseja matar.

Charlie se levanta do sofá com grande dificuldade, enquanto a filha lê: “Ela [a baleia] é apenas um pobre e grande animal”. Depois, Ellie completa dizendo o quanto se sente triste pelo capitão Ahab, porque ele acredita que matando a baleia sua vida será melhor, mas isso não o ajudará em nada. 

Créditos HL

Esse texto é de Gabriela Guratti para nossa coluna Cinemateca HL. Ele teve revisão de Raphael Alves e edição de Nicole Ayres, editora assistente do Homo Literatus.

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